Os sintomas clássicos da doença são a poliúria — urinar em grande quantidade e muitas vezes —, mas também a polidipsia (sede persistente e intensa) e a polifagia, em que se sente constantemente uma fome insaciável. Mas podem existir associados outros sintomas menos importantes para o seu diagnóstico, como por exemplo, ter frequentemente a sensação de boca seca, sentindo cansaço, falta de força e fadiga

É um nome estranho, mas a que devemos estar atentos. A diabetes mellitus ​ inclui um grupo de patologias ou doenças que têm uma consequência comum: a hiperglicemia, ou seja, a elevação sustentada do açúcar no sangue. E porque ocorre a elevação do açúcar no sangue?

A glicose ou açúcar é a principal fonte de energia para as células. Ora, para que possa entrar na célula, precisa de uma hormona, a insulina, que, em sentido figurativo, funciona como uma chave para abrir as portas da célula . Por isso mesmo, a ausência total de insulina é mortal.

A diabetes resulta na deficiência absoluta ou relativa de insulina ou de resistência à sua acão. Daí, resulta a perturbação do metabolismo dos hidratos de carbono, lipídeos e proteínas, sendo a consequência mais evidente e imediata, a hiperglicemia, que é como quem diz a existência de açúcar elevado no sangue. Ou seja, estamos perante uma doença em que existe muito açúcar no sangue, a hiperglicemia, mas não existe dentro das células, estando estas “a passar fome” . Por isso, há emagrecimento.

Existem vários tipos de diabetes. As mais comuns são a diabetes mellitus tipo 1 e a diabetes mellitus tipo 2 . A diabetes mellitus tipo 2 é a forma mais comum no mundo. A sua incidência e prevalência aumentam com a idade — é por vezes chamada de diabetes dos velhos —, mas sendo rara nos mais novos, é cada vez mais frequente, também nesta faixa etária.

Para além do fator idade, estão implicados fatores genéticos e ambientais. O seu aparecimento é desencadeado por obesidade, erros alimentares e sedentarismo. Sendo rara em idade pediátrica, o sedentarismo, a obesidade infantil e a alimentação rica em hidratos de carbono e gordura e pobre em fibras são as razões para que seja cada vez mais comum em Pediatria.

Nesta forma de diabetes, não há só défice de insulina. O organismo produz insulina, mas os tecidos são resistentes ao seu efeito, ou seja, é como se a chave das portas das células tivesse um defeito e só funcionasse com muito esforço.

A diabetes mellitus tipo 1 é a forma mais comum em idade pediátrica e não tem qualquer relação com hábitos de vida saudáveis ou não saudáveis. Pode surgir em crianças magras ou gordas, baixas ou altas, desportistas ou sedentárias . A sua causa ainda é desconhecida, mas ocorre por um fenómeno auto-imune em que há destruição completa das células pancreáticas produtoras de insulina. Estes pacientes com diabetes mellitus tipo 1 necessitam de administrar insulina continuamente ou várias vezes ao dia para viver.

Infelizmente, assistimos também a um aumento desta forma de diabetes pelo mundo que atinge crianças cada vez mais pequenas. Estima-se que exista um aumento na incidência desta forma de diabetes de 0,3% ao ano. Desconhecemos ainda as razões para este aumento progressivo e porque atinge cada vez mais crianças e mais pequenas.

Os sintomas clássicos da doença são a poliúria — urinar em grande quantidade e muitas vezes —, mas também a polidipsia (sede persistente e intensa) e a polifagia, em que se sente constantemente uma fome insaciável. Mas podem existir associados outros sintomas menos importantes para o seu diagnóstico, como por exemplo, ter frequentemente a sensação de boca seca, sentindo cansaço, falta de força e fadiga.

Perante a clínica característica e a suspeita de diabetes, deve-se recorrer a um especialista para a chamada determinação glicémica e a confirmação do diagnóstico. Saliento que o diagnóstico deve ser sempre feito por um médico , que perante a sua confirmação, irá proceder a outras avaliações importantes e urgentes.

Uma das dúvidas mais frequentes é se há tratamento ou cura. Há tratamento, mas na diabetes tipo 1 ainda não há cura .

Uma vida normal Na presença de diabetes mellitus tipo 2, uma dieta adequada à criança/adolescente (que está em crescimento) com perda progressiva de peso e o aumento da atividade física podem reverter a situação de diabetes. Mas este doente e a sua família devem ter sempre em mente que os hábitos de vida saudáveis e uma dieta hipocalórica, rica em fibras, são para toda a vida.

Deve-se limitar a ingestão de produtos de origem animal, privilegiando uma dieta rica em hortícolas, evitando dietas hipercalóricas e alimentos muito processados. Praticar exercício regular, evitar hábitos tabágicos, privilegiar atividades ao ar livre e diminuir o stress são outras tantas recomendações.

Apesar de tudo, a criança/adolescente diabético pode fazer de tudo e não deve ser privado de nada , desde que bem controlado. Normalmente crescem mais conscienciosos e responsáveis porque aprendem desde cedo a comer corretamente e a ter uma rotina disciplinadora.

Já o tratamento da diabetes tipo 1 passa por múltiplas administrações diárias injetáveis de insulina ou perfusão contínua de insulina subcutânea através de um pequeno dispositivo médico a que chamamos bomba de insulina. A quantidade de insulina a administrar depende de vários fatores: do valor do açúcar no sangue, do cálculo previsível dos hidratos de carbono que vai comer, da hora do dia, se vai praticar exercício físico ou não, do estado de saúde.

No entanto, é de ressalvar que estes doentes com o tratamento de insulina adequado podem fazer tudo: comer o que quiserem, praticar o desporto que quiserem, terem a atividade que quiserem. Só devem, como todos nós, ter hábitos de vida saudáveis, mas podem comer doces de vez em quando, como todos.

Os doentes com diabetes mellitus tipo 1 são uns heróis, bem como as suas famílias. Mas se considerarmos que o tratamento é muito complicado e desgastante, devemos estar cientes de que, até 1922, era uma doença mortal . Foi a 11 de janeiro de 1922 que, em Toronto, Canadá, o primeiro doente, com 14 anos, foi tratado com insulina. Essa data foi um marco já que esta doença tinha finalmente tratamento.

Foram várias as evoluções no tratamento desta doença, desde a forma de administração da insulina à medição dos valores de glicemia. Nestes últimos anos, surgiram as bombas híbridas, que têm acoplado um sensor que mede a glicose em tempo real e que “diz” à bomba para administrar mais ou menos insulina de acordo com os níveis de açúcar no sangue. Ou seja, estamos perante um mecanismo e uma forma de tratamento que se assemelha a um pâncreas artificial .

Estes equipamentos, de última tecnologia, apesar de dispendiosos permitem manter um bom controlo glicémico, reduzem significativamente as complicações a curto e a longo prazo da diabetes e permitem, ainda, a redução de faltas ao trabalho dos pais e absentismo escolar. Seria importante que todos os diabéticos tivessem acesso a estes sistemas híbridos, por serem atualmente a melhor forma de tratamento e porque permitem um mais eficaz controlo glicémico.

A diabetes é uma doença que exige um acompanhamento médico regular, porque se trata de uma doença crónica que acompanha a criança no seu crescimento. Temos de adaptar a quantidade de insulina às suas necessidades, que variam dependendo da idade, do peso, se está ou não na puberdade, enfim, das atividades do dia a dia. E para avaliação e tratamento de possíveis comorbilidades ou de doenças associadas à diabetes.

Para terminar, deixo alguns conselhos aos pais cujos filhos têm diabetes. Devem trabalhar em estreita articulação com a equipa de saúde — médico e enfermeiro de Pediatria Endócrina — ao mesmo tempo que supervisionam os cuidados diários indispensáveis para o controlo da doença, mantendo hábitos de vida saudáveis e proporcionando uma vida normal aos filhos, igual a todos. E ter sempre esperança.

A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990


Publicado

en